quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Menino peralta


Menino peralta
que corre, que pula
e joga bolinha
que quebra vidraça
e pisa nas plantas
que atenta a vizinha.
Te vejo correndo
pulando o muro
fazendo piruetas
atrás dos passarinhos
teu sorriso é puro
você pega rabeira
de qualquer caminhão.
Dá volta na praça
fazendo arruaça
igual a um tufão
menino peralta
é vivo demais.
Bate nos colegas
corre atrás dos gatos
cola na escola
brinca no recreio
gastando os sapatos
suja toda a roupa
faz malabarismos.
Trepa nas fruteiras
bate nos cachorros
Empina papagaio
e faz tanta asneira.
Menino travesso
gosto de te ver
me lembra meus filhos
quando eram meninos
lembro as travessuras
palmadas que dei
nos meus pequeninos.
Meus Deus, as canseiras
noites mal dormidas
mas apesar de tudo
foi o melhor tempo
de toda a minha vida. 



Eu nasci


Eu nasci de um acidente
de um pobre amor ferido
nasci da inconseqüência
de um desejo proibido.

Eu nasci foi por engano
gerada de uma paixão
de um encontro fatal
que criou uma ilusão.

Nasci da desesperança
de um somho irreal
das malhas de uma quimera
de uma tristeza mortal.

Nasci das gotas de fel
de um nitente desvario
da nostalgia da tarde
das águas turvas de um rio.

Nasci do escuro da noite
de uma triste ironia
da mágoa de uma mulher
da dor, da melancolia.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Hoje eu quero


Hoje eu quero escrever
todas as palavras belas
a poesia mais singela
que sair do coração
Quero fazer versos lindos
de sentimentos infindos
e  compor uma canção.

Hoje eu quero sair
andar em jardim florido
buscar meu sonho perdido
que se extinguiu no passado
poder trazê-lo de rastros
o meus pobre sonho gasto
que nunca foi realizado.

Quero captar os sons
canto de aves na floresta
a madrugada em festa
e a canção do seresteiro
as cantigas de além-mar
as ondas a marulhar
sob o denso nevoeiro.

Quero pintar lindos quadros
das mais variadas cores
colorir todas as flores
com cuidados de pintor
roubar raios de luar
para poder enfeitar
a noite do meu amor.



Estrela passageira


Lágrimas, retalhos de saudade plena
Bailar efêmero de asas transparentes
Feixe de luzes, de alma serena
Acordes sonoros de harpas cristalinas, solfejos
De frases murmuradas, de evolar de beijos
Sonho dourado, reminiscências de emoções
Mistura de formas cambiantes, torrente de paixões
Maciez de pétalas sob um sol de primavera
Reprise de gozos de inefável quimera
Perfume de filtros mágicos em chamas consumidos
Doçura do néctar dos deuses, o fruto proibido
Rolar sobre um tapete de estrelas invisíveis
Buscando no infinito nuances impossíveis
Taças transbordantes do perfume das flores
Cofre de esmeraldas, repositório de amores
Pedras preciosas, refulgentes, coloridas
Elo sutil da morte recambiando a vida
Ponto final de uma existência que expirou
Rastro de luz no céu, de uma estrela que passou
Que correu veloz, muito mais que o pensamento
E se afundou no éter, e caiu no esquecimento.

A cavalgada


Foi a galope no dorso do vento
terrível vendaval de emoções
sem rumo certo, as constelações
na estrada azul do infinito.

Corrida veloz de nebulosas
pairando sobre estrelas refulgentes
chocando em nuvens transparentes
fofas, macias, vaporosas.

Corcel que corre sobre as voragens
trazendo à tona a dupla imagem
da cavalgada noite adentro

De corpos em chamas delirantes
sonhos febris e palpitantes
prazer do amor, doce tormento.

Poema para recordar


São folhas de outono
soltas pelo chão
um amor que passa
chuva de verão.

Fiapos de nuvens
uma dor sem jeito
brilho que se apaga
de um sonho desfeito.

Resquícios de saudade
acordes em surdina
liras prateadas
música divina.

Verde de esmeraldas
fontes de cristais
ternura de beijos
sonhos irreais.

Vento que fustiga
corrida pelos campos
ao cair da noite
luz dos pirilampos.

Um buquê de rosas
me traz à lembrança
prazer de folguedos
tempos de criança.

Poema das flores


Sonhei com um jardim encantado
canteiros de miosótis, de verbenas
lírios alvos como a neve
nardo, gerânio, açucena

Um caramanchão de rosas
rosas vermelhas, brancas, amarelas
orquídea lilás e madressilva
hortências azuis, lindas camélias

Era um festival de flores
jasmim, cravina, junquilho
amarílis cambiantes
tulipas cheias de brilho

Glicínia, aurora, gardênia
e crisântemos floridos
tinha até jasmim-do-cabo
nesse jardim colorido

Perpétuas roxas, saudades
violetas perfumadas
azaléias, agapantos
rosas azuis-prateadas

Era festa para o olhar
a variedade de cores
embriagava os sentidos
com o perfume das flores.



domingo, 23 de novembro de 2008

Metamorfose


Metamorfose da vida
misto de saudade e emoções
fantasias de tempos apagados
destroços de ilusões.

Ilusões que se afundaram
como um barco à deriva
lutando para manter
uma chama sempre viva.

Viva as palavras amigas
doces, cheias de ternura
que moram nos corações
de inefável candura.

Candura de sentimentos
que o tempo já apagou
que o rio da vida inclemente
nas suas águas levou.

Levou para longe
os sonhos, a inspiração
e depois foi se tornando
em veemente emoção.
 
Emoção de harmonizar
todas as coisas do universo
e juntar tudo em poesia
e transformá-las em versos.

Sonho angelical


Menina que em candura adormeces
qual lírio dos campos, cândido de alvura
os anjos róseos vêm velar teu sono
afagar tua face, adormecida e pura.

O peito arfante de emoções contidas
tempos de espera, de receio
pudera  o destino reverter agora
essa ânsia atroz que te invade o seio.

Cabelos soltos enfeitam teu rosto
como nuvens claras, ondulantes
coro celeste, que sublime entoam
canção serena, acordes palpitantes.

Um ser amado povoa os teus onhos
prelúdio do amor, dor do desejo
e, lânguida, descobres que és mulher
à espera da ternura de um beijo.

Pintura


Estava inspirada e captei
tons violáceos, cores variadas
o verde do mar, o amarelo do ouro
que combinam com róseas, azuladas.

E pintei paisagens coloridas
ao cair na terra a poeira azul dos céus
cor de ondas revoltas, fazendo escarcéus
conchas nacaradas, de âmbar embebidas.

Sol que atravessa pétalas douradas
com seus raios fulvos, faiscantes
gotas de orvalho luzindo como estrelas
esmeraldas preciosas, fulgurantes.

Tarde de verão,  zéfiro brando
fere os tímpanos, música sublime
ritmos sutis, ternos, amenos
poesia envolvente que a alma exprime.

Pintei com mãos de fada uma aquarela
misto de pôr-de-sol, de madrugadas
transparência de cristal, rubi e ouro
densas nuvens de franjas prateadas.

Captei nuances que nenhum pintor
pôde transportar para uma tela
misturei formas de cores não sonhadas
para criar uma pintura pura e bela.







Sonho perdido


Foi nos relevos da lua
em uma porta entreaberta
na paisagem deserta
ou nas esquinas da rua.

Foi nas gotas de orvalho
foi nas veredas da vida
e nas taças consumidas
ou nas cartas do baralho.

Nas asas da inspiração
nas raias de uma paixão
em um abismo medonho.

Foi no fim daquela estrada
de linhas coordenadas
que perdi meu grande sonho.

Amo-te


Amo-te ausente, no verter do pranto
ausência mensageira da saudade
com tal fervor, com tal ansiedade
desejo de te amar, puro encanto.

Quisera ver-te aqui e agora
me envolver, fremente, nos teus braços
repousar no teu ombro o meu cansaço
como o sol nos braços frios da aurora.

Me embeber na luz do teu olhar
e me perder nas trevas dos teus cabelos
matar a sede voraz dos meus apelos
juntar-me a ti e sonhar... e sonhar.

Aquecer com meu calor teu corpo branco
tocar de leve tua boca sensual
matar em mim essa angústia mortal
e esvanecer no seu sorriso franco.

Quero mergulhar em águas calmas
preencher do meu âmago o vazio
dourar o sonho de um viver sombrio
tirar a ânsia que crucia a alma.

No meu seio aconchegar tua cabeça
deitar contigo em campos floridos
poder saciar a fome dos sentidos
até passar o dia e que anoiteça.

Provar teus beijos em longo momento
qual lua branca de eterno langor
sentir na carne as delícias do amor
partilhar teu sonho unida em pensamento.









Rosas


Rosa vermelha encarnada
quem foi que roubou teu botão?
Deixando os teus ramos verdes
soltos, murchos, pelo chão.

Rosas azuis prateadas
Oh! linda rosa-menina
quem te arrancou do caule?
Qual foi a mão assassina?

Quem desfolhou minhas rosas
jogando-as ao relento?
Foram crianças da rua
ou foi o sopro do vento?

De quem é essa mão malvada
que arranca pétalas macias?
Quem destruiu as roseiras
quem fez essa covardia?

Não interessa quem foi
só sei que eu abomino!
Quem violenta as flores
nunca foi um bom menino.



Teu amor


O teu amor é a fonte
manancial de águas claras
anseio da minha vida
um cofre de pedras raras

Sombra de árvores frondosas
abrigo dos passarinhos
beijo purpúreo da aurora
flores soltas nos caminhos

Mel de corolas azuis
folhas frescas orvalhadas
fiapos brancos de luar
branco-pérola de alvorada

Teu amor é o pôr do sol
que afunda no horizonte
raio de astros brilhantes
dourando a relva dos montes

É uma harpa sonora
de suave melodia
clarão de manhãs raiadas
nuances do albor do dia

Murmúrio terno das águas
correndo sobre o cascalho
raio de luz que atravessa
as níveas gotas de orvalho


sábado, 22 de novembro de 2008

Flores do meu jardim

Eu tenho dez flores lindas
plantadas no meu jardim
de um lado a rosa-do-prado
no meio o pé de jasmim

O lírio do vale perto
de um riacho pequeno
junto dele, o narciso
que exala perfume ameno

Num canto, o junquilho esbelto
com outras flores ao lado
e o nardo exala no ar
seu aroma adocicado

A azaléia formosa
debaixo da amurada
e a violeta singela
junto da rosa encarnada

O pé de rosa-menina
um encanto para o olhar
ela é a mais pequenina
que eu tenho pra cuidar

Neste jardim onde plantei
todas estas flores
estão meus dez filhos queridos
que são todos, meus amores.



Barco sem rumo


No barco da vida
de dor incontida
de sonhos desfeitos
navega a saudade
de tempos passados
outrora marcados
por nossos defeitos
De sombras sem fim
agarrando-se a mim
tirando a paixão
a dor da ilusão
a mágoa sem jeito
o amor sem carinho
a ave sem ninho
o gesto imperfeito

No barco do amor
com todo o furor
nas brumas da vida
que segue cantando
e volta chorando
com a alma ferida
nas faltas passadas
de coisas lembradas
de dores sofridas
de sofrer sem nome
de amor que consome
nas tramas vividas.


A tarde


Cai a tarde, serena e mansamente
o sol como um rubi encravado no horizonte
lança os seus raios sobre as colinas
e reflete chispas vermelhas
sobre a água da fonte

Por entre as ramadas, o gorgeio das aves
em busca do seu ninho
os insetos e as borboletas entre as flores
se escondem nos arbustos à beira do caminho.

E o lavrador volta para casa cansado
do seu trabalho ao decorrer do dia
e vem se aconchegar com os seus no casebre
como um hino de amor, rezam a Ave-Maria.

E a noite vem chegando de mansinho
como um manto leve, cinza-azulado
vai descobrindo as mangas lentamente
num abraçar de braços encantados.

Amor amigo


Agora fico a lembrar
das coisas que eu sempre quis
daquilo que eu gostaria
de fazer e nunca fiz

De ter dado a você
todo amor que eu sentia
todo amor, todo carinho
mas você me inibia

Tua falta de ternura
me tirava a alegria
e eu não podia dizer
tudo aquilo que eu queria

Hoje, sinto-me sozinha
com você aqui, comigo
o tempo passa depressa
agora somos como amigos.

Você


Você...
é a flor que se embalança
o fruto que madura
a pluma que flutua
o riso da criança

Você...
é a fonte que murmura
a andorinha que passa
a árvore mais dourada
e mais cheia de graça

Você...
é minha estrela guia
a luz da minha estrada
o alento do viajante
a noite enluarada

Você...
é a jóia que irradia
é a flauta em surdina
tocando a melodia
de uma canção divina

Você...
é o refrigério da alma
a borboleta colorida
a pessoa mais bela
e mais cheia de vida

Você...
é uma réstia de sol
no meu mundo irreal
um grito de amor
do meu grande ideal

Você...
é a paisagem mais bela
é a fragrância mais pura
a flor que desabrocha
o meu rio de ventura

Você...
é  o oásis no deserto
a mais linda canção
o caminho mais perto
pra chegar ao coração.



Em busca de Deus


Meu Deus vem em meu auxílio
Como se eu estivesse bem longe, no exílio
Como autômato eu procuro um caminho triste
Cansada, eu choro baixinho
Como criança chorosa e perdida
Vou a procura do amor, da vida

Senhor vem curar meu pobre coração
Vem trazer à minh'alma um lenitivo: a sua mão
Me conduz a luminosos prados
Refrigera meu corpo e meu coração cheios de pecados

Teu báculo me conduz pelo vale escuro
Me levando por teus caminhos puros
Quero chegar feliz aos braços teus
Assim como corre o cervo pela água fria
Corre minh'alma para Ti, meu Deus.