quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Desencanto


Vem anjo azul curar o meu desencanto
aura sutil de brisas suaves, arpejantes
sonho incolor em nuvens cor de prata
que mãos piedosas enxugou meu pranto?
Doce langor de pétalas orvalhadas
sombra da noite dispersou meu sonho
cor de marfim, albor das madrugadas
cheiro agreste de prados luxuriantes.
Clara visão de todas as claridades
fúria do mar em vagas fulgurantes
quebra em meu peito ondas de melancolia
a volúpia dorme seu sono vago, sem emoção
para acordar, de repente, no acalanto do dia.
Em solo estéril eu busquei a própria vida
árvores secas, folhas de outono avermelhadas
a chuva cai sobre as rosas despetaladas.
Como em minh'alma rasga o punhal, sangra a ferida
corre em meu ser ondas elétricas, voluptuosas
acendem chamas que pareciam mortificadas
ateia o fogo no frio da carne impiedosa.
A tua ausência eu sinto tanto, e choro tanto
louca que sou, por ter lastimado meu desencanto.




Quem és?


Tu és o anjo bom que segue a rota de ondas mansas
perfume sutil da essência de todas as flores
verde-escuro do bosque entrelaçado de parasitas
beijo fugaz de amor, de beija-flores enamorados
cheiro de maresia nas dunas leves de praias brancas.

Braços da noite negra roubando as cores da alvorada
chuva de astros azuis se derramando pelo espaço
coro de peregrinos entoando hinos pelas estradas
falenas seguindo a luz, queimando as asas nos lampiões
brilho fulvo de estrelas se extinguindo na amplidão.

Jovem, sempre buscando um sonho puro
és a balada triste do seresteiro dentro da noite
sonho azul de menina na longa espera de um grande amor
soluços em meio à treva de uma criança que está perdida
poeta que está à procura de uma rima que se extraviou
preces de almas puras subindo a Deus.





Soneto do Amor


Quisera teu amor, como um dia tive
em leitos róseos de flores macias
apaixonante ao romper do dia
atear o fogo, que aqui dentro vive.

Poder te amar como a alvorada
sentir o gosto, o travo do pecado
dormir no seio do teu sonho impuro
e ouvir do amor, o lancinante brado.

Matar em ti a ansiedade louca
beber no teu sorriso o vão momento
falar em teu ouvido frases roucas.

Deixar correr, assim, o pensamento
provar o beijo de mel em tua boca
e do prazer, o seu contentamento.


Sonho Sublime


Roubei o canto das aves
da tarde, a melancolia
do infeliz, os fracassos
e a tristeza do dia.

Roubei o farfalhar das matas
e da fonte, o murmurar
o sopro da brisa marinha
o som das ondas do mar.

Roubei o nácar da lua
o ribombar dos trovões
o gemido dos amantes
e o pulsar dos corações.

Roubei o planger dos sinos
e da sereia, o canto
o som da chuva caindo
as modinhas de acalanto.

Roubei da rola o queixume
o murmúrio da oração
os ais dos apaixonados
os acordes de um violão.

Roubei o uivo dos ventos
da criança, o balbucio
e o estrondo das águas
das cataratas de um rio.

Roubei o raio de sol
o ciciar dos besouros
o cantar do sabiá
o destoar dos calouros.

Eu roubei o mel das flores
e o riso da criança
o sussurrar dos amores
a folha que embalança.

Tudo aquilo que eu roubei
eu não fiz por covardia
dessa mistura de sons 
compuz uma sinfonia.

Adeus


Na hora da despedida
nós ficamos sem ação
a saudade antecipando
a dor da separação
pondo um marco em minha vida.

Fiquei um tempo abraçada
chorando nos braços teus
e com dor no coração
murmuramos com paixão
uma só palavra: adeus!

Na gare da estação
com meu lenço acenando
derramei amargo pranto
vendo você se afastando
deixando em mim o desencanto.

Eu fiquei ali, parada
por muito tempo chorando
o que vou fazer agora?
Meu viver não tem sentido
já que você foi embora.

Vida


Vida!  a vida está em tudo
está nas aves canoras
dentro de um simples pardal
e na criança que chora.

A vida está nas árvores 
a vida não tem idade
está na decrepitude
no frescor da mocidade.

A vida enche a terra
e nos leva para frente
está no sertão, nas vilas
nas ruas cheias de gente.

Está nas feras bravias
na leva dos imigrantes
está na rima dos poetas
no coração dos amantes.

A vida está nos céus
e nos raios de luar
está nos portos, nas praças
nas profundezas do mar.

A vida está nos campos
nos pequenos animais
nas borboletas azuis
no auge dos ideais.

A vida está nas cidades 
pelas ruas e calçadas
no rico e no mendigo
na criança abandonada.

Ela está dentro dos lares
e no brilho dos salões
na rija têmpera dos homens
no pulsar dos corações.

A vida está nas fábricas
nas pequenas oficinas
na gare das estações
nos escritórios, nas minas.

Está nas águas correntes
está no pólen das flores
na alvorada cor de rosa
no encanto dos amores.

Está na rosa purpurina
no coração dos ateus
tudo na terra tem vida
o mais belo dom de Deus.