terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Sonhador


Pedi à mãe natureza
Um pouco de cada essência
Um pouco de cada cor
Para pôr em uma tela
O perfil de um sonhador

Tirei da noite o negrume
Para pintar teu olhar
E a poesia que transcende
Da aurora branca, a raiar
A alvura do teu rosto
Eu tirei dos lírios puros

O vermelho dos teus lábios
Roubei do fruto maduro
O doce do teu sorriso
Tirei do néctar das flores
Do canto do rouxinol
E do enlevo dos amores

Teus cabelos cacheados
Tirei dos fios de luar
Do escurecer da tarde
Da brisa mansa do mar
Eu pintei teu rosto lindo
Teu corpo esguio, sonhador
A tua pele macia

Teus olhos cheios de amor
Transportei para uma tela
Tua beleza, sonhador
Pois, uma metade tua é canção
E a outra metade, amor
Por isso você transmite
A todos muita alegria
Porque você por inteiro
É sonho, amor e poesia

Soneto da Urgência


Eu preciso escrever
O que me vem à cabeça
Seguir o meu pensamento
Antes que se esvaneça

Seguir a imaginação
A inspiração do momento
Correr atrás da essência
Que foge ao sopro do vento

Tenho urgência de expor
Minhas frases, minha rima
O meu canto estropiado

Minhas idéias, meu amor
Antes de ouvir o chamado
Do meu Senhor lá de cima

Soneto da Inspiração


Eu busquei a inspiração
Na claridade do dia
Na nostalgia da tarde
Na noite negra e sombria

Busquei em campos floridos
Em toda sua plenitude
No canto alegre das aves
No anseio da juventude

Busquei no fulgor dos astros
Na tristeza que me invade
No começo, meio e fim

No tormento da saudade
Até que um dia encontrei
Estava dentro de mim

Soneto da Lua


A lua no infinito
Qual donzela enamorada
Espera por seu amor
Até alta madrugada

Mas seu amado, o sol
Saudoso, corre e estua
Mas nunca pode abraçar
A sua querida lua

Sem podê-la encontrar
Muito triste, ele chora
Derrama um pranto dourado

Lamentando o seu destino
Pois toda vez que ele chega
Sua amada vai embora

Soneto de Inverno


O inverno chegou tão de repente
Com o vento sibilando nos ouvidos
E as pobres árvores secas
Estendendo seus braços ressequidos

Senti uma dor imensa
Naquela manhã sombria
A minha alma chorava
No meu corpo em agonia

Senti que também chegava
O inverno em minha vida
Fazendo-me envelhecer

Roubando o meu encanto
E como as árvores secas
Espero o tempo correr

Soneto do Pescador


Pescador de altos mares
No seu veleiro a cantar
Leva-me, também, contigo
No acalanto do mar

Quero viver esse momento
Sentir de ti o mormaço
Te aconchegar em meu peito
E acalmar o teu cansaço

Entregar-me ao teu amor
Em uma doce loucura
Tocar tua pele macia

Sentir teu corpo em meu corpo
Os teus braços, pescador
Com cheiro de maresia

Soneto do Mar


Quero navegar em mar aberto
cabelos esvoaçantes, ao léu
Debaixo do azul do céu
E você ali por perto

Poder navegar meus sonhos
No barco rosa do amor
Ouvindo o som das ondas
E a rima do trovador

Pescar as conchas e pérolas
Ouvir o canto da sereia
O vento varrer a espuma

Descer em praias macias
Pisar, de leve, na areia
Ver teus olhos cor de bruma

Soneto do Vento


Vento que passa nas árvores
embalando os galhos
Vento que joga no chão
as claras gotas de orvalho

Vento que passa uivando
pelas rochas escarpadas
Que traz o cheiro do mar
de ondas verdes quebradas

Vento que traz a saudade
Traz para mim alegria
Brisa fagueira do amor

Dissipa essa nostalgia
Converte em felicidade
A vida de um sonhador

Vingança da Natureza


Era uma tarde de domingo, de repente, o céu azul ficou turvo de nuvens pesadas e cinzentas,
e a chuva começou a cair aos borbotões sobre o telhado das casas.

O vento uivava como um cão danado naquela tarde cor de chumbo,
as árvores retorciam-se como serpentes feridas de morte.

As raízes estremeciam-se querendo arrancar as entranhas da terra,
o estrondo rouco dos trovões era igual ao ronco de gigantescas feras enlouquecidas.

Os pássaros com as penas aderentes aos seus corpinhos frágeis,
impossibilitando-os de voarem para os seus ninhos.

As pessoas que passavam pela rua, de vestes coladas ao corpo, 
correndo, desordenadas, à procura de um abrigo.

Parecia que Deus, em sua ira, havia aberto todas as comportas do céu,
jogando aquela massa liquefeita sobre a face da terra.

E choveu dia após dia, até virar enchente, 
castigo pelos crimes cometidos contra a natureza.

Pois o homem, na sua inconsciência criminosa, polui os rios e queima as matas,
desequilibrando a harmonia da natureza.

Ela que é sábia e obedece as leis do Criador, se vinga,
revoltando-se contra seu agressor que, por acaso, é o homem.
A criatura mais racional que Deus colocou sobre a terra.






Busca das Essências


Saí percorrendo estradas, em busca da poesia mais pura
do ritmo harmonioso de uma linda canção
do som marulhante das ondas frementes do mar
subi as montanhas captar o ar rarefeito dos cumes
desci ao regato ouvir o rolar macio das cascatas mansas.

Entrei nas matas virgens para ouvir o gorgeio das aves canoras
desci ao âmago das flores para colher a fragrância de todos os perfumes
cheguei no lago sereno para ouvir a voz do silêncio das águas calmas
subi para o infinito deleitar-me com o coro de anjos celestes
entrei numa nuvem branca, correndo atrás de astros dourados.

Andei no azul dos céus para colher um buquê de estrelas
entrei no fundo da terra, roubar a raridade de gemas escondidas
parti nas asas do vento, buscar os matizes da alvorada
saí pela pradaria colhendo a alvura dos lírios puros
entrei em verdes pomares tirar o pomo dos frutos maduros.

Levantei as mãos para o alto, recolhi gotas de safira do orvalho da noite
cruzei o horizonte para alcançar os fulvos raios de sol
percorri todos os caminhos, buscando a forma de belezas inusitadas
para compor um hino sublime como o canto dos querubins
e pintar um quadro maravilhoso como os matizes de todas as cores

Para fazer um manto com o véu da noite enluarada
bordado com pedras raras e com fios de ouro das estrelas cadentes
juntei nesse amálgama da essência de todas as coisas
para, em holocausto, queimar oferendas puras para o meu Deus.



Soneto dos Passarinhos


Os passarinhos na minha janela
vieram me trazer a inspiração
gritar o eco da recordação
de uma cantiga pura e singela

Cresce no peito a dor da saudade
de amores passados, tempos idos
um mar de sonhos proibidos
na minh'alma entra e invade

Vem passarinho, colorir meu canto
secar dos olhos lágrimas ardentes
de um triste amor, estancar o pranto

Soprar do fogo essa última chama
talvez da vida, anseio de quem ama
do meu sofrer, por ter te amado tanto.



Soneto da Morte


Quem sabe um dia a morte intransigente
sem pena, corta os fios da minha vida
me levará para longe, de vencida
assim tão breve, a alma impenitente

Rompe os fios que me ligam à essa terra
e abrindo uma passagem, me levando
sem ver a hora, nem como e nem quando
a algum lugar que apavora, que me aterra

Do núcleo familiar fazer-me ausente
sem sonhos, sem glórias e sem brilhos
deixar atrás a falta permanente

No coração saudoso de meus filhos
e voar para uma estrela luzente
de repente, não mais que de repente.

Busca


Quem roubou a minha poesia
levou também meu sonho azul
eu saí, louca, procurando
e procurei de norte a sul.

Fui ao recôncavo dos mares
e no abismo medonho
enfrentei fúrias terríveis
para encontrar o meu sonho.

Saí procurar nas matas
até no cume dos montes
dentro dos rios caudalosos
e na linha do horizonte.

Cortei vales e colinas
atrás de um sonho bonito
Procurei nas nuvens claras
e no éter do infinito.

Busquei no fulgor dos astros
e nas cavernas da lua
nas ondas enfurecidas
e no barco que flutua.

Não busquei nos arredores
vejam só que ironia
pois aqui, bem pertinho
que achei sonho e poesia.

Eu jamais encontraria
minha busca era em vão
pois eles sempre estiveram
dentro do meu coração.


Desvario


Lembro o dia que passaste
junto à minha janela
que enlevo que eu senti
que dor no peito aquela.

Tive como uma vertigem
ao mirar teu corpo esguio
mesmo em pleno verão
fiquei tremendo de frio.

Você foi um desatino
o meu sonho mais querido
tormento da minh'alma
o meu fruto proibido.

Foi uma grande loucura
tremenda luta interior
quase morri de desgosto
para esquecer esse amor.

Eu sofria em silêncio
quando você não passava
eu nunca pedia nada
só te ver já me bastava.

Sofri as penas do inferno
para poder te esquecer
mas esse amor insensato
amargurou meu viver.








Soneto da Saudade


Ao ouvir o som daquela velha canção
me transportei a um passado distante
senti uma tristeza me invadir
e doer dentro de mim naquele instante

Recordei-me da grandeza do nosso amor
de doces lembranças, de lindos momentos
da ânsia louca dos teus abraços ardentes
e da suavidade do teu beijo lento

Daquela doce cumplicidade
de um sonho belo de ventura
que faz voltar o pensamento

Para noites passadas de felicidade
aquela recordação que se afigura
do amor vivido, a intensidade.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Soneto de Outono


A brisa fresca vai passando
jogando folhas amarelas pelo chão
os pássaros vão para os seus ninhos
início de outono, fim de verão.

As flores escasseiam nos jardins
fica pesado o ar que era puro
e os pomares carregados
cheios de fruto maduro.

Outono, início do frio
começo de uma estação
traz na alma o arrepio

a dor da desilusão
desespero da saudade
tormento de um coração.


quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Alma em tormenta


Existe dentro de mim um mundo
de poemas inusitados
que decantam o amor e a paixão
momentos felizes, outrora passados.

Esse poeta que dorme
no meu subconsciente
e acorda de vez em quando
para um grito veemente.

Brado de amor, de desejos proibidos
de saudades de coisas
lembradas e vividas.

Uma chama que devora
amarga e cresce
aos poucos se anula
e desaparece.

Essa mulher viva e sensual
que mora dentro de mim
sofre os desenganos
pela velhice precoce
e o passar dos anos.

Como fera enjaulada
dentro da minha carcaça
ela chora a dor
da sensualidade reprimida
e do tempo que passa.

Tempos idos


Na longa estrada da vida
as flores emurchecidas
que perderam o encanto
e caíram de seu galho
encharcadas de orvalho
como os meus olhos de pranto.

Qual uma estrela luzente
igual meu olhar descrente
que perdeu todo o fulgor
e corta o céu num momento
veloz como o pensamento
alquebrada de amor.

Um sorriso se afigura
como um ritus de amargura
na face, a aura perdida
a alma pende, vazia
como uma noite sombria
pelos caminhos da vida.

Esvanesceu a beleza
dando lugar à tristeza
de uma alvorada sem cor
andando pelos caminhos
cheios de pedras e espinhos
de solidão e amargor.

Eu quero correr na estrada
ver pôr-de-sol, alvorada
e noites lindas de luar
quero ouvir o som das matas
o murmurar das cascatas
e a passarada a cantar.

Sentar perto do regato
sentir o cheiro de mato
e respirar o ar puro
colher as flores do campo
perseguir os pirilampos
comer um fruto maduro.

Quero ver os animais
dar um giro nos currais
para tomar leite quente
mas são apenas lembranças
desses tempos de criança
que voltam, assim, de repente.


Lenitivo


Às vezes paro e analiso
e pouco a pouco eu diviso
muito, até mais que o pensamento
e choro de nostalgia
essa dor que me angustia
e causa tanto sofrimento.

Sinto um grande sufoco
e um desejo tão louco
tomando conta de mim
e fico assim, parada
os olhos fitos no nada
um desalento sem fim.

E fico de mal com a vida
como uma ave ferida
que vive fora do ninho
essa dor da solidão
que trava o meu coração
que vive só, sem carinho.

E as lágrimas descendo
pouco a pouco vão correndo
molhando todo o meu rosto
cada lágrima que cai
é mais um sonho que se esvai
e me mata de desgosto.

E a vida analisando
fico a pensar, até quando
o meu coração aguenta
essa fibra enfraquecida
do cordão da minha vida
até que um dia arrebenta.

Só tenho por companhia
a beleza da poesia
e o reviver da lembrança
Por isso,  em noites de lua
como um barco que flutua
minha rima é a esperança.

Esperança que um dia
alguém de mim lembraria
e me ajudasse na meta
de levar meu pensamento
aos corações em tormento
a alma de um poeta.

Para aliviar as dores
e proteger os amores
e estancar todo o pranto
de alguém que algum dia
perdeu a sua alegria
só por ter amado tanto.